Como adubar Cacau?
Objetivo e Vantagens
A adubação adequada do cacaueiro é fundamental para garantir o desenvolvimento saudável das plantas, maximizar a produção e melhorar a qualidade das amêndoas.
Uma nutrição equilibrada fortalece a resistência natural das plantas contra pragas e doenças, reduzindo a necessidade de intervenções fitossanitárias.
O manejo correto da fertilidade do solo promove a sustentabilidade do sistema produtivo, preservando as características físicas, químicas e biológicas do solo.
A adubação racional otimiza o investimento do produtor, direcionando os recursos para os nutrientes realmente necessários conforme a fase de desenvolvimento e o potencial produtivo da área.
Plantas bem nutridas apresentam maior longevidade produtiva, melhor adaptação a estresses ambientais e produzem frutos com maior teor de gordura e compostos aromáticos nas amêndoas.
Materiais e Ferramentas Necessárias
Insumos básicos para adubação:
- Calcário dolomítico (para correção de acidez e fornecimento de cálcio e magnésio)
- Fertilizantes orgânicos: esterco bovino curtido, composto orgânico, bokashi, húmus de minhoca
- Fertilizantes minerais: NPK formulado (ex: 10-10-10, 14-7-28, 20-5-20)
- Fontes de nitrogênio: ureia, sulfato de amônio, nitrato de amônio
- Fontes de fósforo: superfosfato simples, superfosfato triplo, fosfato natural
- Fontes de potássio: cloreto de potássio, sulfato de potássio
- Fontes de micronutrientes: FTE BR12, sulfato de zinco, sulfato de cobre, ácido bórico
Equipamentos para análise e aplicação:
- Trado ou pá para coleta de amostras de solo
- Recipientes plásticos limpos para acondicionamento das amostras
- Balança para pesagem dos fertilizantes
- Recipientes para medição e mistura
- Equipamentos de proteção individual (luvas, máscara, botas)
- Enxada ou enxadão para incorporação dos fertilizantes
- Regador ou sistema de irrigação para adubação líquida
Materiais complementares:
- Planilhas de cálculo ou aplicativos para recomendação de adubação
- Mapas da área para planejamento e registro das aplicações
- Etiquetas ou marcadores para identificação de plantas/áreas adubadas
Passo a Passo Detalhado
Preparação inicial
Realização de análise de solo:
Colete amostras de solo na profundidade de 0-20 cm e 20-40 cm, em pelo menos 15-20 pontos diferentes por área homogênea.
Misture bem as subamostras de cada profundidade, formando uma amostra composta.
Seque a amostra à sombra, em local limpo e livre de contaminação.
Envie aproximadamente 500g de cada amostra composta para laboratório credenciado.
Para plantios já estabelecidos, realize a coleta na projeção da copa, evitando pontos muito próximos ao tronco ou à extremidade dos ramos.
Interpretação da análise e cálculo da necessidade de adubação:
Considere os níveis críticos de cada nutriente específicos para a cultura do cacau.
Calcule a necessidade de calagem conforme o método de saturação por bases, buscando elevá-la para 60-70%.
Determine as quantidades de NPK e micronutrientes conforme a fase da cultura:
- Plantio: prioridade para fósforo e matéria orgânica
- Crescimento: ênfase em nitrogênio e potássio
- Produção: equilíbrio entre nitrogênio, fósforo e potássio, com atenção a cálcio e magnésio
Principais cuidados durante o processo
Adubação de plantio (preparo da cova):
Dimensões recomendadas da cova: 40 x 40 x 40 cm ou 50 x 50 x 50 cm.
Aplicar 30 dias antes do plantio:
- 200-300g de calcário dolomítico (conforme análise de solo)
- 10-20 litros de esterco bovino curtido ou composto orgânico
- 200-300g de superfosfato simples
- 50g de FTE BR12 ou similar (fonte de micronutrientes)
Misturar os insumos com a terra da cova e deixar em repouso até o plantio.
Adubação de crescimento (plantas jovens de 1-3 anos):
Dividir a adubação em 3-4 aplicações anuais, preferencialmente no início e final da estação chuvosa.
Aplicar por planta, em cada adubação:
- 50-100g de sulfato de amônio ou 25-50g de ureia
- 30-60g de superfosfato simples
- 30-60g de cloreto de potássio
Distribuir os fertilizantes em círculo ao redor da planta, a uma distância de 30-50 cm do tronco, aumentando esta distância conforme a planta cresce.
Incorporar levemente os fertilizantes ao solo e cobrir com matéria orgânica.
Adubação de produção (plantas adultas):
Realizar 2-3 aplicações anuais, considerando o ciclo produtivo regional.
Aplicar por planta adulta produtiva, anualmente:
- 300-500g de nitrogênio (equivalente a 650-1100g de ureia)
- 50-100g de P₂O₅ (equivalente a 250-500g de superfosfato simples)
- 300-500g de K₂O (equivalente a 500-830g de cloreto de potássio)
- 20-30g de micronutrientes (FTE BR12 ou similar)
Distribuir os fertilizantes na projeção da copa, entre 50 cm do tronco até a extremidade dos ramos.
Em solos com tendência à acidificação, realizar calagem a cada 2-3 anos conforme análise de solo.
Cuidados Complementares
Monitoramento nutricional constante através de análise foliar, complementando a análise de solo.
Coletar a terceira ou quarta folha a partir do ápice de ramos sem frutos, em altura média da copa, aos quatro pontos cardeais da planta.
Realizar análise foliar preferencialmente no período de maior estabilidade fisiológica da planta (geralmente no meio da estação chuvosa).
Ajustar o programa de adubação conforme os resultados de análises sequenciais e resposta das plantas.
Utilizar adubação foliar como complemento em casos específicos:
- Correção rápida de deficiências de micronutrientes
- Períodos de floração intensa
- Recuperação após estresses (seca, ataque severo de pragas)
Observar sintomas visuais indicativos de deficiências nutricionais:
- Nitrogênio: folhas mais velhas amareladas uniformemente, crescimento reduzido
- Fósforo: folhas com coloração verde-escura opaca, manchas arroxeadas nas bordas
- Potássio: necrose nas bordas das folhas mais velhas, queda prematura de folhas
- Cálcio: morte de pontos de crescimento, folhas novas deformadas
- Magnésio: clorose internerval em folhas mais velhas
- Enxofre: amarelecimento uniforme das folhas mais novas
- Boro: morte de pontos de crescimento, folhas deformadas e quebradiças
- Zinco: folhas pequenas e em roseta, clorose internerval
Dicas de Otimização e Erros Comuns
Utilize técnicas de adubação verde e cobertura morta para complementar a nutrição e melhorar as condições físicas do solo.
Em sistemas agroflorestais ou cabruca, aproveite a queda natural de folhas das árvores de sombra como fonte adicional de matéria orgânica e nutrientes.
Considere o uso de biofertilizantes líquidos para estimular a atividade microbiológica do solo e fornecer nutrientes de forma mais equilibrada.
Em solos muito argilosos ou compactados, priorize adubos orgânicos e práticas de manejo que melhorem a estrutura física e a drenagem.
Erros comuns que devem ser evitados:
- Aplicar fertilizantes em período muito seco sem irrigação complementar
- Concentrar fertilizantes muito próximo ao tronco, causando queima de raízes
- Utilizar formulações padronizadas sem considerar a análise de solo específica
- Aplicar doses excessivas de nitrogênio, que estimulam crescimento vegetativo em detrimento da produção
- Negligenciar a correção da acidez do solo e o fornecimento de cálcio e magnésio
- Desconsiderar o equilíbrio entre nutrientes, especialmente a relação K:Ca:Mg
Em cultivos orgânicos certificados, utilize apenas insumos permitidos pelas normas de certificação, como:
- Compostos orgânicos e vermicompostos
- Biofertilizantes produzidos na propriedade
- Pó de rocha (fontes naturais de potássio, cálcio e magnésio)
- Fosfatos naturais de baixa solubilidade
- Cinzas vegetais
- Bokashi e outros preparados biodinâmicos
Adapte o programa de adubação às condições climáticas locais, antecipando ou postergando aplicações conforme a previsão de chuvas para garantir melhor aproveitamento dos nutrientes.